Caroline Ribeiro é uma publicitária competente, responsável há um bom tempo pelo setor de planejamento de uma importante agência carioca. Boa amiga, boa filha, animada, leitora voraz e safada assumida, é adepta do lema “pegar sem se apegar”.
Para ela, o par perfeito só existe nos livros e, depois de sofrer uma decepção amorosa na adolescência, tem certeza de que o seu homem ideal é fictício.
Relacionamentos estão fora de questão, se apaixonar é algo que não a atinge.
Até conhecer André Durand.
O sous-chef do Trotta Bistrô é um cara tranquilo, e que foge de badalação. Seu plano de vida é se especializar, abrir seu próprio restaurante e cuidar de sua filha, um bebê fruto de um relacionamento conturbado.
Pai solo, responsável, competente e confiável, já tem muito o que administrar em sua vida e não precisa de problemas.
Só que não.
Um encontro arranjado coloca esses dois frente a frente e eles não poderiam ser mais diferentes. A atração fulminante entre os dois mostra que não é só a cozinha do restaurante que pega fogo.
AVISO: Conteúdo para maiores de 18 anos, pois possui cenas eróticas.
Volume 2 da trilogia Paixões Inesperadas, livros independentes.
Ele é romântico, ela é desapegada.
Dizem que os opostos se atraem porque as diferenças se completam, mas será mesmo verdade?
Nesse livro você encontra:
Conteúdo +18
Cenas hot de tirar o fôlego
Pai-solo
Um sous-chef encantador
Bistrô Trotta
Uma cozinha caliente
Mocinha desapegada
Adepta do “pega e não se apega”
Capítulo 1
— Em vão tenho lutado comigo mesmo; nada consegui. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e preciso que me permita dizer-lhe que eu a admiro e amo ardentemente.[1]
Suspiro, pela milésima vez, enquanto o aplicativo de leitura relê o meu diálogo favorito de Orgulho e Preconceito. Já perdi as contas de quantas vezes eu repassei esse trecho, que eu já até sei de cor.
Não é injusto que esses tipos, como Mr. Darcy, só existem nos livros? Costumava pensar que conseguiria um homem assim, ainda na adolescência, mas tudo o que acho são os caras de sempre: ou são bonitos, ou são gostosos, mas no geral são apenas babacas sem redenção no final.
Claro que procurar pelo certo nunca me impediu de testar os errados, e isso acaba sendo muito mais divertido, só que dá uma certa tristeza, sabe? Essas autoras nos fazem sonhar com o tipo ideal, e nunca conseguimos um espécime equivalente.
Eles não existem e é por isso que eu permaneço solteira.
Se eu fosse advogada, processaria por propaganda enganosa.
— Caroline! — Salto na cadeira quando a mão do meu chefe, Armando Marcondes, bate com força sobre a mesa, fazendo um barulho daqueles. Tiro os fones de ouvido, me atrapalhando no processo, já o encarando. — Não ouviu o que eu disse?
Estico os lábios, em um sorriso falso, enquanto me decido pelo sarcasmo ou pela educação.
— Não ouvi, desculpe. — Opto pelo segundo, me lembrando das contas a pagar no final do mês. — Estava entretida em um projeto.
Projeto “me iludir em busca de meu próprio Mr. Darcy”.
Não sei se fui convincente, pois ele passa os olhos por minha mesa, procurando algo fora do lugar. Ele sempre faz isso, busca qualquer coisa que sirva para ser o absoluto pedaço de merda de sempre e jogar na nossa cara que estamos errados.
Sempre em voz alta. Sempre nos expondo ao ridículo.
— Projeto, hein? Soube que você está trabalhando para o restaurante Trotta — ele solta e meu estômago revira um pouquinho. Não queria que ele soubesse disso. — Mas, curiosamente, ao buscar no financeiro sobre isso, não encontrei o restaurante entre os nossos clientes.
— Prestei apenas uma consultoria — minto. — Eu conheço a irmã do proprietário, e eles tiveram uma pequena dificuldade com imagem. Foi apenas isso.
Não é uma mentira completa. Eu realmente conheço a Thais e, foi por causa disso, que Rafaela foi trabalhar com eles. Minha amiga ficou desempregada por um bom tempo, depois que Marcondes a demitiu, inexplicavelmente, e agora é hostess desse bistrô.
Foi ela quem me procurou, pedindo ajuda para um projeto de contenção de danos, porque o dono do restaurante, aquela delícia ambulante, foi pego chacoalhando seu avental por terras ocupadas e isso não caiu bem na mídia. Digamos que ele não vestia nada por baixo do avental e, por mais que eu tenha apreciado o conteúdo, sua imagem ficou um pouco arranhada.
Eu poderia ter feito tudo através da agência, mas me recusei. Uma, porque adorei conhecer Daniel Guerra, a reunião que eu tive com eles no Trotta foi muito proveitosa. Outra, porque não quero que Marcondes saiba onde Rafa está trabalhando. Algo me diz que ela foi demitida por ter se recusado a sair com ele, ainda que ela não acredite nisso.
O que minha amiga menos precisa no momento é esse cosplay[2] de Quasímodo[3] enchendo sua paciência. Não tenho dúvida alguma de que essa é a primeira coisa que ele fará.
— Ainda que tenha sido apenas isso, sabe que não gosto de ver minhas funcionárias oferecendo trabalho por fora. — O seu tom malicioso não deixa margem de dúvida sobre sua insinuação. — Por que não fui informado sobre isso?
— Você foi — retruco —, ou não estaria aqui me perguntando a respeito.
Apoio as costas na cadeira e passo rapidamente os olhos pela sala. Todos estão de ouvidos bem atentos à nossa conversa, e eu gostaria muito de ter a certeza sobre quem foi o dedo duro da vez.
Fico triste em saber que pode ser qualquer um, afinal de contas, trabalhar neste lugar é horrível. A concorrência é complicada, o quadro de funcionários é quase integralmente masculino e, não sei se por convivência ou babaquice crônica, todos eles se acham superiores a nós, mulheres, e não pensam duas vezes em dinamitar qualquer chance que possamos ter em nos dar bem.
— Caroline, eu acho bom você não abusar da sorte. Você não faz nada que qualquer outro funcionário, com até menos tempo de casa, não possa fazer, então… fique esperta.
[1] Trecho de “Orgulho e Preconceito,” de Jane Austen.
[2] Representação de personagem.
[3] Personagem de “O Corcunda de Notre-Dame”, de Victor Hugo.