Daniel Guerra é um chef de cozinha renomado. Depois de anos vivendo na França, onde se especializou e trabalhou por um bom tempo, desembarcou no Rio de Janeiro, decidido a ter o seu próprio restaurante.
Já tendo falhado uma vez, ele chega com uma decisão: voltou para vencer.
Dedicado, competente, mal-humorado, muito mulherengo e solteirão convicto, Daniel tem apenas uma regra: “onde se ganha o pão, não se come a carne”. O mundo é muito grande, vasto, e cheio de mulheres para correr o risco de se enrolar saindo com funcionárias.
Ele só não contava com um empecilho: Rafaela Badeni, a publicitária espoleta que está há seis meses desempregada e aceita trabalhar como hostess no recém-inaugurado Trotta Bistrô, em Ipanema.
Como um bom prato, cujos ingredientes combinam, a química entre eles é instantânea.
Ele parece um cachorro no cio, ela sofre de fogo no rabo agudo.
Juntos, eles são fogo e gasolina, mas a regra criada por Daniel segue como um lembrete de que ela é proibida para ele. Até quando?
AVISO: Conteúdo para maiores de 18 anos, pois possui cenas eróticas.
Volume 1 da trilogia Paixões Inesperadas, livros independentes.
Uma história leve, divertida, com personagens cativantes, impossível parar de ler
Nesse livro você encontra:
Conteúdo +18
Cenas hot de tirar o fôlego
Daniel Guerra
O tesão em pessoa
Bistrô Trotta
Uma cozinha caliente
Pequeno demônio
A mocinha com fogo no rabo
Capítulo 1
Rafaela
Repito o movimento de torcer os lábios, de um lado a outro, enquanto aguardo na linha a minha chamada ser atendida. É involuntário, sempre acontece quando estou insatisfeita com alguma coisa. Isso vem ocorrendo com mais frequência do que eu gostaria, devo assumir.
Hoje completam quarenta dias que tento, diariamente, encontrar um emprego. Já estou ao ponto de me render e aceitar qualquer coisa que apareça — a hora do desespero vai bater e não será bonita. E por mais que eu goste de me manter sempre positiva, vou lhes dizer, anda difícil nessa situação em que me encontro.
Eu tinha o emprego dos sonhos. Dos meus sonhos, claro, devo dizer. Formada em Propaganda e Marketing, entrei para uma das maiores agências de publicidade da capital, ainda quando cursava o penúltimo ano de faculdade. Passei cinco anos reinando como planner[1], sendo parte da equipe que produziu campanhas publicitárias para grandes marcas e com um foco específico: chegar ao departamento de arte da agência.
Estava perto, muito perto de conseguir o meu feito. Uma vaga no departamento estava sendo disputada a tapa, e eu tinha certeza de que a minha chance estava bem ali. Me sentia tão próxima, que a sensação era de só precisar me esticar um pouquinho, se ficasse na ponta dos pés daria para alcançar e aí…
Foi aí que eu me estabaquei[2] no chão. Com força, de cara. Foi exatamente isso que aconteceu!
Não é raro a minha mente ficar me relembrando o momento em que Marcondes, aquele sádico, me deu a notícia que eu tanto temia, acompanhado por um sorrisinho.
— Sinto muito, Rafaela, mas temos que dispensar os seus serviços.
Já faz seis meses. A princípio, fiquei tranquila, ciente da minha capacidade, pensei que encontraria uma nova vaga com rapidez. Enquanto procurava, aproveitei os benefícios que caíam em minha conta bancária, até que eles cessaram e… bem, nada de um novo emprego.
Esta é a minha última chance, se não der certo, serei obrigada a procurar qualquer ocupação fora da minha área. Pensar nisso me dá aquele aperto no peito característico, que se ouvir bem de perto soa como uma risada baixinha e maldosa, insinuando que você é uma fracassada.
Já ouviu essa risadinha? É o seu “eu” interno, que não cansa de te julgar. Não costumava ouvi-lo com muita frequência, mas ultimamente parece ter se tornado a minha única companhia.
Suspiro fundo, quando o som do outro lado da linha indica que a ligação caiu. Ou que caíram com ela.
O que eu faço, agora?
Caroline, minha melhor amiga e, por anos, colega de trabalho, havia me dito que a agência concorrente estava procurando perfis específicos para preencher o seu quadro de funcionários. Enviei o currículo, mas não obtive resposta. Hoje decidi ser um pouco mais ousada e tentar uma abordagem direta, afinal, situações extremas exigem medidas desesperadas, mas como fazer isso se nem sequer consigo falar com alguém?
Jogo o celular e o vejo afundando entre as almofadas coloridas que ficam em cima do estofado. Poderia até fazer um paralelo entre mim e ele, afundando sem controle, sumindo em um mar de dívidas que andam se acumulando.
Assustada com a imagem mental que fiz de mim mesma, sigo até a cozinha conjugada, separada da sala de estar por um pequeno balcão de granito. Meu pequeno apartamento, compacto e aconchegante, foi a minha primeira conquista logo que completei um ano de agência. Meu pai havia acabado de se aposentar, e decidiu, com minha mãe, se mudar para o interior do estado. Apesar de amar Vassouras, a Cidade dos Barões, não planejava sair de Niterói, por isso batalhei para comprar o meu próprio cantinho. Um apartamento pequeno, de um quarto apenas, mas que virou meu lugar favorito no mundo.
Abro a geladeira e seguro a porta, enquanto penso, notando que em breve vou precisar ir ao supermercado. Minha mente fica piscando, quase como um painel em néon, avisando que o dinheiro vai secar. Apanho um grande pote de sorvete de chocolate nas mãos e sigo para o sofá, já que a vida não me ajuda, talvez se eu morrer por excesso de gordura, ela sinta pena de mim.
Sim, estou dramática, me deixe!
Desempregada, solitária e solteira. Eu que dizia que o ano passado tinha sido ruim, mal sabia eu! Ano passado eu continuava solitária e solteira, mas ao menos eu tinha como me manter.
[1] Equipe de planejamento.
[2] Cair (no chão ou em algum lugar) de forma completa.