entre oceanos | 2
[…Um amor incondicional e um oceano de distância….]
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O quão tarde é para recomeçar?
Quinze dias se tornaram dois meses, mas o relógio foi implacável, assim como a bagagem emocional que Maria Luiza e Vicente carregavam.
Malu partiu, deixando Vicente arrasado e mergulhado em seus próprios demônios. Agora, além da distância, eles vão precisar lidar com a vida ao redor.
Ela tem um negócio para gerir, em outro continente, e um amigo apaixonado disposto a tudo para ficar com ela.
Ele tem uma operação policial perigosa e um inimigo oculto, que pode, inclusive, tirar-lhe a vida.
Eles têm um amor incondicional e um oceano de distância.
Quando você belisca um pedaço do paraíso, não dá pra voltar inteiro ao inferno, ainda que tenha vivido nele a vida inteira.
Nesse livro você encontra:
Reflexão
A construção de uma relação à distância
Emoção
Em personagens inesquecíveis
Encontros e desencontros
Personagens quebrados
Romance
O amor em suas nuances
Capítulo 1
1 — Eu sempre estive aqui
Malu
O clima típico me atinge, assim que eu coloco os pés na calçada, fora do aeroporto. Preciso encontrar um táxi que me deixe em casa, mas antes de fazê-lo, fecho os olhos, recebendo a saudação do vento escocês, cortante e úmido, como sempre. Teoricamente estamos no verão, mas a jaqueta está a postos.
Foram quatorze horas de São Paulo até aqui, eu poderia ir direto à pousada mas… preciso colocar minha cabeça e meu coração em ordem. Aparentemente isso não funciona enquanto estamos nas alturas. Abro o aplicativo e deixo minha passagem de trem comprada para amanhã, é um trajeto rápido até Markinch e, de lá, pego um carro até Kennoway, chegarei à pousada próximo da hora do almoço e isso me dará tempo o suficiente para lidar com tudo o que preciso.
O taxista simpático tenta puxar conversa, mas apenas esboço um sorriso, definitivamente não estou no clima. Informo o endereço de casa, o local simpático que vivi quando criança com meus pais e meu irmão, e que pertencia ao meu avô. Minha tia ainda vive na casa ao lado, e eu espero que ela não esteja varrendo a calçada — ou traduzindo para a língua dos Drummond, cuidando da vida alheia — quando eu estacionar ali em frente. Ela já é uma senhora de idade e, como todas as senhoras da mesma idade desta cidade, tem uma rotina… peculiar. Adora ficar na calçada, varrendo as folhas das árvores que caem no passeio e olhando ao redor, observando a vizinhança.
Felizmente quando o carro estaciona em frente de casa, no final da rua sem saída, está tudo vazio. Já deve ter mais de um ano que não piso aqui e, apesar de minha tia ter ficado com as chaves para arejar a casa, noto que ela precisa de uma boa manutenção. O pequeno jardim que ladeia a entrada está com mato alto, quase invadindo a passagem que leva à porta.
Suspiro fundo, relembrando minha infância neste mesmo local. Por quantas vezes eu não desci esses poucos degraus, correndo, cumprimentando os vizinhos que estavam pela rua, e descendo a grande rua até seu limiar, para buscar meu pai que vivia tocando sua guitarra nas esquinas do Howard Palace.
A casa cheira a mofo. Com esse clima molhado, um dia sem abrir as janelas já causa estrago, ainda mais em uma construção antiga como esta. Faço uma anotação mental de chamar alguém para uma boa limpeza, vai ser preciso.
Sento-me no sofá, esticando as pernas, depois de jogar os sapatos longe. Pego o celular e noto que está sem bateria, e o peito aperta, mais uma vez. Será que tenho mensagens dele? Espero ter. Repasso novamente a cena em minha sala, o olhar dolorido do meu delegado, magoado demais comigo. No entanto, eu não consigo me culpar por ter vindo, eu não teria paz sabendo que a pousada pode estar com problemas, correndo o risco de perder a licença…
O que acaba comigo é a sensação de solidão. Isso está esmagando meu peito.
Meu estômago ronca alto, olho no relógio e passa da uma e meia da tarde. Resolvo pedir algo para comer e sigo para o banho. Estou tão quebrada que, a hora que me deitar, vou apagar, com certeza. Pego uma camiseta qualquer e sigo para o chuveiro, berrando quando a água gelada bate em meu corpo.
Castigo, aposto.
Algum tempo depois, morta de cansaço e de frio, mas de barriga cheia, me jogo na cama e apago.