Quando te conheci, eu tinha apenas treze anos. Era conhecido como o garoto problema da escola. Quebrado, machucado e revoltado.
Ainda assim, você me olhou.
Estendi a mão e você a pegou. Mal sabe que, não fosse por isso, eu teria me afogado.
Você foi o meu primeiro amor. Dona de todos os meus sorrisos, do meu primeiro beijo e das melhores horas do meu dia. Horas, essas, que só existiam quando eu estava ao seu lado.
Aos dezesseis, fugi de casa. Em minha cabeça adolescente, voltaria um dia e te daria o meu melhor. Não sabia que cairia em um poço tão fundo que quebraria minhas pernas, tornando a subida demorada, quase impossível.
Não me chamo Ícaro à toa. Não é só na mitologia que o rapaz teimoso tenta fugir de sua prisão querendo tocar o sol, e tem as asas derretidas, afundando no mar Egeu. Eu também quis voar alto. Eu também caí.
Quinze anos se passaram e eu ainda não superei você.
Fiz escolhas erradas.
Perdi o meu melhor pelo caminho.
De garoto problema a garoto de programa, uma longa estrada esburacada nos afastou.
Espero que ainda se lembre de mim. E, quando o fizer, lembre-se que eu sempre te amei.
AVISO:
Conteúdo para maiores de 18 anos. Cenas eróticas.
ESTE LIVRO NÃO É DARK, porém, contém gatilhos: violência sexual, abandono parental afetivo, uso de substâncias ilícitas, situações com consentimento duvidoso, tentativa de suicídio, doença psiquiátrica.
Respeite seus limites se você é sensível a qualquer um desses temas.
E quando a dor do outro dói mais do que se doesse em você?
Nesse livro você encontra:
Conteúdo +18
Cenas hot de tirar o fôlego
Gatilhos
Este livro não é Dark mas possui temas sensíveis. Respeite seus limites.
Amor puro
Amor que supera a dor e os obstáculos da vida
Sensibilidade
Temas reais e profundos
Capítulo 1
Ícaro
Uso a manga da camiseta que estou vestindo para secar um filete de suor que escorre por minha têmpora e me sento no chão, atrás do carro da diretora. É o local mais seguro do estacionamento, por ela ser a última pessoa a sair do colégio diariamente.
Estou sentindo calafrios, apesar do calor infernal que está fazendo hoje. Puxo as pernas, tentando não me fazer ser notado por qualquer um que esteja passando pelo local, e sinto uma fisgada na costela que me faz perder o ar.
Eu deveria estar deitado, talvez me sentisse melhor. Mas, para que isso funcione, eu preciso de um local calmo e tranquilo.
Também deveria estar me dirigindo à sala de aula a uma hora dessas, mas a minha cabeça não está funcionando direito. Nada hoje está funcionando direito. Se houvesse um buraco onde eu pudesse me esconder do mundo, certamente eu faria.
Meu estômago dói muito. Eu deveria ter almoçado ontem, quando dona Kátia me ofereceu comida, ou não estaria quase o dia inteiro sem comer. Água não está mais matando a minha fome.
Barulho de passos, vindos de algum lugar atrás de mim, me faz fechar os olhos e prender a respiração. Mentalmente, eu peço para quem quer que seja mudar a direção e ir para outro lugar.
Por favor, por favor, por favor.
Não quero ver ninguém hoje. Falar com ninguém.
Se eu for pego aqui, vão me levar para a secretaria e chamar a minha mãe.
Ou, pior. Nem sequer posso imaginar o que aconteceria se chamassem ele.
— Ícaro? — Sinto vontade de chorar ao ouvir a voz fina e preocupada de Layla, soando a poucos passos de onde estou. — O que está fazendo aqui?
— Me deixe em paz — respondo, baixinho, tentando soar intimidante.
— Estava te esperando no portão.
Mantenho a atenção em meus sapatos. Tenho a sensação de que, se eu olhar para ela, Layla saberá tudo o que aconteceu ontem à noite. Ela sempre parece saber tudo sobre mim, mas isso… não quero que ela saiba. Nunca.
Não suportaria ver que ela se envergonha de mim. Que tem nojo de mim! Não ela.
— Vi você correndo pra cá. Aconteceu alguma coisa?
Balanço a cabeça de um lado para o outro, sem dizer uma palavra.
— Por que veio com essa camiseta de manga longa? — ela tenta, novamente. — Está fazendo muito calor, hoje.
— Porque eu quis, Layla! — grito, impaciente. — Pare de me encher o saco!
Arrependo-me imediatamente do que disse, ela não merece que eu a maltrate.
Aperto os olhos e inspiro, mais uma vez, contendo um gemido ao sentir outra pontada na lateral. A batida que dei na quina da mesa, ontem à noite, parece ter causado mais danos do que eu imaginei.
Não demora muito o cheiro gostoso de morango toma conta de todo o espaço, quando ela se aproxima, ajoelhando ao meu lado e soltando sua mochila em um canto qualquer. Layla usa o mesmo xampu há anos, e esse perfume virou quase uma marca registrada sua. Ele funciona como um ímã, me fazendo virar em sua direção de imediato.
A primeira coisa que eu reparo é no jeito como ela prende o lábio entre os dentes. Sua boca sempre me deixa com vontade de beijá-la, mesmo sabendo que eu não devo fazer isso. Então noto a bochecha rosada, o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo e os olhos… eles têm um tom de folhas no outono, uma mistura de verde e marrom que eu nunca vi nos olhos de mais ninguém.
Ela é a garota mais linda do mundo.